EB 2/3 de Paranhos

Narrativa (à minha maneira)

Solicitada a que escrevesse algumas linhas sobre narrativa, apresso-me a declarar que, por opção ‘editorial’, por gosto pessoal, por vitória anunciada da emoção sobre a razão, esquecerei, por minutos, um dos sentidos do termo – o de modo, categoria universal e meta-histórica, por oposição ao lírico e ao épico -, e apenas me deterei no seu sentido mais restrito enquanto conjunto dos conteúdos veiculados por esse mesmo modo; isto é, uma história à qual um exercício de enunciação dá forma.

Por outras palavras, a narrativa enquanto uma história mais uma narração.

Quanto às histórias, a matéria-prima de qualquer narrativa, sempre acompanharam o ser humano.

Também eles personagens de uma história, que histórias - ou estórias - terá Adão contado a Eva?

Não ganhou Xerazade, do rei Xariar, o direito a mil e uma noites de vida pelo sortilégio das suas narrativas?

Quanto à narração, ela é parte integrante e diferenciadora do próprio género. Como escreveu Marjorie Boulton, «as histórias não se contam a elas próprias». Chegam-nos, assim, por vozes doces, pela palavra bem escrita, pela arte da imagem e do som.

Quem nunca provou o doce sabor de uma história, real ou imaginada, contada – narrada, digo - pela voz da mãe, do pai, da avó, do avô, de uma irmã ou de um irmão mais velhos, de um professor?

Quem nunca perguntou, primeiro, «E depois?», e, mais tarde, «Porquê»?

Quem nunca se emocionou com a narrativa, em verso, dos feitos de Vasco de Gama n’ Os Lusíadas?

Quem nunca ‘torceu’ por Romeu e Julieta e se espantou com a Blimunda do Memorial do Convento?

Ou, nos nossos dias de imagem e de som, quem nunca se encolheu de medo, quem nunca verteu uma lágrima numa cadeira de um cinema?

 Escutadas, lidas, visionadas, as narrativas preenchem as nossas necessidades básicas: curiosidade, entretenimento, evasão, emulação, conhecimento, instrução.

Ao fim e ao cabo, narrativas são também as nossas vidas, e pedindo permissão a Daniel Pennac para uma pequena reformulação, à minha maneira, de uma sua citação célebre, a virtude delas é «fazer-nos abstrair do mundo para lhe encontrarmos um sentido».

 

Natália Cabral

Natal Todos os Dias

“Tens as chaves de casa?

Quem tens em casa para te receber?

Quando estás sozinho, o que é a primeira coisa que fazes, quando entras em casa?

— Ligo a televisão…”

Hoje em dia a televisão é uma espécie de ama electrónica. As pessoas estão sós, 

sejam crianças ou adultos, e querem 

companhia, querem contrariar essa solidão.

Antigamente a cultura era transmitida por familiares, amigos, pelos avós, pela vida lá fora…

Actualmente a cultura é transmitida pela televisão.

Contudo, ultrapassada, que está hoje, a concepção da criança como adulto mais novo, objecto predominantemente passivo de protecção, irrompe o reconhecimento, já ao nível do direito nacional e 

internacional, da criança como sujeito de direito, ser extremamente interactivo e agente participativo do seu próprio 

destino, titular autónomo de direitos 

humanos, fundados na sua iminente 

dignidade, que englobam do ponto de 

vista do seu gozo os direitos comuns a todos os cidadãos e ainda os direitos 

específicos que se fundamentam nas 

características e necessidades especiais do seu processo de desenvolvimento.

A Utopia realizável de um Mundo das Crianças justo e feliz, porque fundado na realização dos seus direitos humanos, 

apresenta-se cada vez mais como 

condigno e estímulo insubstituível de um Mundo global e local que também possa vir a ser, por fidelidade aos mesmos ideais de efectiva inclusão, de todos os cidadãos. Inclusão ancorada, nomeadamente, na concretização dos proclamados objectivos da eliminação da pobreza e da luta pela real igualdade de oportunidades, fonte da indispensável justiça social.

É por tudo isto que a frase de Louis 

Pasteur me vem sempre à memória: 

“Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser.”

E é, também, por tudo isto que, 

paralelamente, me lembro do que me foi dito, há tempos, pelo Francisco, com apenas nove anos: “O amor é a loucura, mas quero experimentar um dia.”

Lembremo-nos, assim, que o Mundo da Criança é um espaço cuja dimensão vai até onde o sonho alcança e, nesse 

âmbito, é infindável a imensidão de novos conceitos, novas soluções, novas formas de amar.

 

Professora Natália Cabral

Directora do Agrupamento de Escolas Eugénio de Andade

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by André Campanhã 5ºH N 3